Hoje meu pai me disse que eu só vou ter superado você depois
que te encontrasse na rua e cumprimentasse tranquilamente – só ali eu saberia
que toda e qualquer ferida que você me causou ficou no passado. Mas ainda dói.
Dói quando lembro das tardes preguiçosas jogados em sua
cama; eu usando alguma blusa sua que virava um mini vestido em mim e você com
aquela sua cueca azul folgada. Dói quando lembro dos nossos almoços na cama –
geralmente pizza ou um prato imenso de feijão que sua mãe fazia e eu adorava.
Dói quando lembro das vezes em que íamos ficar com sua cachorra no terraço de
sua casa e ela subia feito uma louca em nossas pernas. Dói quando lembro das
vezes em que cozinhamos juntos e você pirraçava a moça que trabalhava em sua
casa, nos fazendo rir. Dói quando lembro da forma paternal como tratava seu
irmão caçula e da admiração com que seu irmão do meio olhava pra você. Dói toda
vez que fecho os olhos e sinto o cheiro do seu suor após algum ensaio. Dói
quando lembro de sua cara de concentração tentando pegar alguma virada muito
difícil na bateria. Dói quando lembro do seu sorriso, do seu toque, da sua voz.
Do carinho com que você me tratava, dos abraços demorados, dos beijos
entrecortados por vários selinhos, dos
cafunés, das risadas infinitas e das vezes que nossos corpos se encaixaram mais
do que a física acharia humanamente possível – Newton só disse que “dois corpos
não ocupam o mesmo lugar ao mesmo tempo” porque nunca nos viu transando.
Me forço a pensar nos momentos ruins, nas mentiras, nas
traições, nas manipulações, nas vezes em que você me fez chorar somente por ser
cruel. Mas há dias, como hoje, que tudo o que eu queria era poder voltar no
tempo e viver tudo aquilo outra vez. Se eu soubesse que sua chegada iria me
machucar tanto, juro que teria apertado o ‘x’ naquele aplicativo.
Dizem que há males que vem para o bem, mas até agora não
consegui tirar um ponto bom disso tudo. Você foi meu maior ponto de paz e hoje
é o maior causador do meu caos.
Iasmyn Gordiano, 18/04/17.
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