quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Passagem

Vai passar.
Sei que você provavelmente não aguenta mais ouvir isso e nem consegue acreditar  que seja possível, mas me ouça: vai passar. Eu sei que todos os dias vêm uma dor diferente e parece que toda essa confusão dentro de você é eterna, mas não é. Se dê um tempo, se dê espaço, viva sua dor, chore o que for necessário, grite quando tiver vontade, deixe que tudo isso saia de seu corpo e de sua alma, um dia por vez. Aos poucos sua vida volta ao normal, novos momentos irão surgindo, novas pessoas irão aparecendo. Você vai passar a se olhar no espelho com um olhar menos crítico e mais apaixonado pela mulher que se tornou. Vai perceber mais as suas qualidades e menos os seus defeitos – na verdade, você vai até rir deles. E quando se lembrar daquele que um dia amou mais que a si mesma vai se perguntar o motivo de tanto amor: não era recíproco, não era verdadeiro e foi um erro, você deveria ter ouvido seu pai. Mas ao invés de sofrer novamente com as lembranças, você irá sorrir e perceber o quanto aquilo foi importante pra seu amadurecimento. Já não é a mesma e nem tinha como ser. Você amadureceu seu olhar pra vida e pras relações, desenvolveu um amor próprio até então desconhecido e consegue notar que merece muito mais que um amor meio bosta. Agora sabe a importância da reciprocidade nas relações e não aceita nada pela metade – quem quiser colar junto vai ter que se doar 100% pra relação, assim como você faz.

Sei que lê isso e pensa: “Nossa, mas ainda falta tanto pra o amor passar” – talvez. Pode ser que ele ainda dure um ano ou um mês, mas uma hora ele passa. E é libertador.

Iasmyn Gordiano, 13/01/17

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Socorro

Não é mais sobre você. Talvez sua partida tenha desengatilhado meus monstros interiores e agora eles estejam tentando tomar conta de mim. Infelizmente, temo que eles tenham achado espaço para isso.
Acordar é um martírio. Dormir é doloroso. Sobreviver é uma luta. Levantar, sorrir, comer, falar, andar, correr e todas as ações que somos obrigados a fazer no dia-a-dia soam como uma verdadeira luta interna para mim. Não tenho forças. Não tenho vontade. Não tenho vida.
Sobrevivo da pior maneira possível.
Não tenho sonhos. Não tenho metas. Não tenho futuro. Não quero acordar. Não quero ter que encarar toda a merda que rodeia a minha mente da hora que eu abro os olhos até a hora em que posso fechá-los novamente. Minha mente não me perdoa e o peso constante em meu peito também não. Chorar parece a solução mais óbvia a qualquer momento e prender a vontade constante de desabar diante de qualquer situação, dói. Dói em mim, em meu corpo, em minha alma. Minha alma chora initerruptamente desde o dia em que você abriu a porta de casa e saiu sem olhar pra trás. Eu fiquei. Eu estou. Junto com todas as merdas que ficaram aqui. Queria me tirar de mim. Sair do meu corpo, da minha cabeça, dessa confusão imensa que me tornei.
Tudo está nublado, confuso, sujo, feio. Assim como eu.
Assim como o que eu me tornei.
Assim como o que eu descobri que sou.

Sou morta. 

Iasmyn Gordiano, 07/01/17