quinta-feira, 28 de julho de 2016

Às quatro da manhã

Foto: Victor Rosa

Às quatro da manhã, estava refletindo sobre meu eu
Sobre meu eu em você
Sobre seu você em meu eu
 
Às quatro da manhã, estava dialogando comigo
Me achando um tolo e exagerado
Uma criança mimada e infantil
Um tanto desprezível e antiquado
 
Às quatro da manhã, estava pensando em você
Em como minha insegurança me corroi
Em como pensar em perder você me doi
E mesmo assim insisto em me irritar
 
Às quatro da manhã, estava na insônia
Você dormia ao meu lado e só queria ver seus sonhos
Só queria um momento a sós com seu interior
Só queria me desculpar e também ouvir um pedido de desculpas
 
Às quatro da manhã, não sabia o que fazer
Como fazer
Quando fazer
Só sabia que queria estar ao seu lado
E abraçado a você, adormeci.

Victor Rosa, 25/07/2016

Doce II



Fogo. Tudo pegava fogo ao meu redor. A minha pele era incandescente, assim como o gosto amargo da droga que descia em minha garganta. Língua dormente, mãos tremulas. Olhos desconexos com o resto do mundo. Cabeça em outros planetas, outras galáxias. Eu não era eu. Eu era parte da mobília antiga do meu quarto, era parte do chão, era uma das partículas de ar que por ali circulavam livremente, como pequenas órbitas de planetas. Eu era o barulho do ventilador que soprava vento quente em minha cara. Era a gota de suor que descia lentamente pelas minhas costas. Era o pensamento perdido que agora vagava em minha mente, tentando reencontrar o sentido dessa frase. 

Iasmyn Gordiano, 06/06/16

Doce



As luzes brilhavam de forma mais intensa, as cores conversavam comigo, enquanto eu podia ouvir o sussurrar do vento. A natureza se comunicava comigo de forma estranha, como se tudo o que eles dissessem eu pudesse ouvir e traduzir em palavras  nítidas e sons conhecidos. Não conseguia distinguir os meus passos do barulho das árvores e do farfalhar dos pássaros. Tudo estava conectado, vibrando, unido. Tudo era como um único poço idêntico de barulhos inaudíveis, que somente eu em meu mundo particular conseguia compreender. Sorria olhando pra o nada, como se o mundo estivesse me contando uma piada. Mas a piada era eu. Eu era a grande piada perdida naquele universo confuso e desestruturado, pois eu era tao desestruturada quanto ele. 

 Iasmyn Gordiano, 05/06/16.

Trevas


Quando a raiva invade o corpo e causa aquela tremedeira sem fim

Quando o choro invade os olhos e fecha a garganta como um soco

Quando o corpo implora por abraço e só encontra a solidão

Quando a escuridão te abraça e tu não consegues ver um palmo

Quando o silêncio toma conta do mundo e tu não consegues ouvir a música

Quando o grito pede para ser solto e tu não tem forças pra o deixar sair

Quando o sangue escorre pelas pernas e tu não tem a quem recorrer

Quando a dor te tira do eixo e tu não tem quem queira curar

Quando tudo for morte, podridão e amargura.

Quando a saída não parecer existir

Quando se esconder já não funcionar como fuga

Quando até a empatia lhe doer

Feche os olhos

Deite

Espere

E grite

E chore

E sinta

Olhe o sol

Cante

Estanque

Deixe doer

Mas, assim como a natureza quando é tocada pelo homem

Renasça

Se recrie

Lute

Viva.

Iasmyn Gordiano, 28/07/16

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Amo-te


Eu te amo nas entrelinhas. Te amo quando tu tá dormindo de boca aberta e roncando. Te amo quando tu rouba minha coberta e sai de perto do meu abraço enquanto tá sonhando. Te amo quando tu acorda emburrado porque teve um pesadelo comigo. Te amo quando não consegue lidar com o ciúmes e bota ele pra fora. Te amo quando pega em minha mão durante uma sessão qualquer de how i met your mother. Te amo quando para pra escutar minhas falações sobre as coisas que gosto. Te amo quando se perde em suas próprias explicações sobre música e fala de bateria como se eu entendesse. Te amo quando gosta de minhas comidas e me zoa enquanto a gente cozinha. Te amo quando te pego me olhando e sorrindo. Te amo quando a gente discute e, ainda assim, tu n sai do meu abraço. Te amo quando é tua voz que acalenta meu choro e é tua mão que enxuga minhas lágrimas. Te amo quando o mundo todo tá ruindo e eu só consigo pensar nos pelinhos da tuas costas e o quanto eu os acho fofinhos. Te amo quando você tá chateado e vem desabafar comigo. Te amo quando me conta teus planos, pede meus conselhos, quando vejo aquele brilho no teu olhar. Te amo quando você não tá bem e tá precisando de colo, e ainda assim me procura. Te amo porque vejo na tua cara escrito o quanto tu me ama também. Te amo. Te cuido. Te acarinho. Te protejo. Te pego pela mão e guio pela escuridão se for necessário. Te dou meus pés, meus braços, meus olhos e, principalmente, meu coração. Sou tua e sendo tua sou minha também. Sou tua de alma e de corpo. Sou tua de mente, de espírito e de riso. Sou tua de gozo, de choro, de dor. Sou tua de planos, de fé e de paz. Sou tua.

E te amo nas linhas amarelas também.

Iasmyn Gordiano, 21/07/16.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Cansaço


Cansada da mesma conversa
Da mesma rotina
Dos mesmos papos jogados fora na mesma mesa de bar
Cansada do mesmo caminho
Da mesma casa
Cansada dos mesmos olhos perdidos que insistem em me olhar no espelho
Cansada da mesma roupa
Do mesmo sapato
Da mesma vida
Cansada da mesma sensação de andar em círculos
Cansada do mesmo abraço
Do mesmo arrepio
Cansada da mesma voz que sussurra em meu ouvido o quão monótono é o tempo
Cansada da mesma sombra me seguindo durante o passar dos dias
Do mesmo clima
Das mesmas investidas
Cansada dos mesmos sorrisos
Das mesmas pessoas
Clamando por algo novo
Um caminho novo
Alguém novo
Por uma eu nova
Cansada
Cansada de estar cansada
Cansada de fazer as mesmas coisas
Me tornei parte da mesma mobília velha de sempre
E estou como ela
Ultrapassada

Iasmyn Gordiano, 12/07/16.