(essa talvez seja uma carta para alguém que se foi há muito
tempo, embora insistisse em permanecer ao meu lado quando o seu amor já não era
servido para mim)
Meu cabelo cresceu. Os cachos agora estão mais definidos,
bem mais do que da última vez em que nos vimos. Eu emagreci também. Depois de
tantas decepções causadas pelas suas mentiras, minha ansiedade atacou de um
jeito que me deixou impossibilitada de comer direito durante um mês. Passei a
fumar mais – quase três meses em que fumo uma carteira de cigarros por dia.
Perdi as contas de quantas noites passei em claro bebendo nos botecos daquela
cidadezinha que você dizia adorar. Também já perdi as contas de quantas bocas
foram beijadas e quantos corpos passaram por minha cama desde que você se foi.
Mudei minhas roupas, embora ainda guarde aqueles vestidinhos que você gostava.
Comecei a trabalhar, voltei a praticar meu inglês, conheci novas pessoas.
Falando nelas, conheci alguém. Alguém que você já conhecia e que surgiu em
minha vida em um momento que ainda não sei se foi muito certo ou errado, mas
que tem colocado um sorriso besta em meus lábios toda vez que me chama. Passei
a me olhar no espelho e a ver uma mulher – uma mulher e não uma menina. Fico
feliz com o que vejo agora, me sinto mais forte, mais completa, mais minha.
Admito que alguns dias são mais difíceis que os outros, às vezes a sua falta me
arrebata de maneira violenta e me tira o sorriso; são nesses momentos que me
forço a esquecer os bons momentos e a lembrar de todas as decepções e tristezas
que você me trouxe. Você transformou uma menina colorida e viva em uma versão
preta e branca, mas aos poucos vou repintando o quadro da minha vida – e, de
certa de forma, te agradeço por isso. Finalmente os pincéis estão em minhas
mãos e quem decide as cores sou eu. Não sei como você está, se sente minha
falta ou se ainda pensa em mim, embora arrisque que não. Algumas pessoas surgem
na vida da outra somente para ensinar alguma lição importante, e, creio eu,
somente eu aprendi algo aqui. Pelo o que fiquei sabendo, você ainda comete os
mesmos erros – apenas mudou de vítima. Embora ainda ache que a palavra vítima
não se encaixe bem nessa situação.
Não sei se essa carta chegará até você. Não sei se algumas
das minhas palavras um dia chegarão até suas mãos. Não sei se você ainda guarda
as cartas físicas que te escrevi ou se meu casaco do Harry Potter ainda está
perdido dentro do seu guarda-roupa excessivamente arrumado. Não sei também se
esse será o último texto que te escrevo – provavelmente não. Acho que enquanto
esses sentimentos existirem em mim será necessário continuar a escrevê-los –
preciso transbordar de alguma forma que não me machuque fisicamente.
Despeço-me de você novamente. Dessa vez, sem um “adeus” ou
qualquer outra palavra de efeito. Talvez a gente se esbarre pela vida, pelos
bares, pelos shows. Talvez eu te veja com sua nova namorada enquanto dou risada
com meus amigos em algum show de Scambo. Talvez a gente se bata enquanto faço
compras com minhas tias. Talvez um dia eu passe por você e não te reconheça e,
ai sim, saberei que meu coração processou a informação que minha mente insiste
em gritar para ele todos os dias: que não vale a pena ter você em minhas
memórias.
Te vejo por aí.
Iasmyn Gordiano, 11/11/16