Já acordo sentindo todas as trevas que existem em mim me
abraçando. E é tudo escuro, frio, barulhento, enevoado. São todos os meus
sentimentos sendo esmagados, ampliados, aumentados, diminuídos, foscos e
brilhosos. São todos os meus anjos e demônios lutando bravamente um contra o
outro, enquanto minha mente tenta achar o equilíbrio que há muito tempo foi
perdido. E são puxões e tapas e gritos e mordidas e arranhões que me dou, que
me faço, que me machuco, na tentativa vã de esquecer aquilo que se passa em
minha cabeça e transferir toda a dor mental para meu físico. Eu não aguento
mais. Peço socorro. Grito por ajuda. Não consigo mais sorrir sem pensar em
chorar copiosamente em algum lugar, enquanto meu corpo implora por uma mão
divina que vá apaziguar todas aquelas sensações ruins e similares. Eu sou minha
própria heroína e minha própria inimiga. Eu posso me salvar, mas estou me
afundando. Minha mão é a que me bate, mas é também a que me puxaria desse
inferno louco em que me transformei. Não sei quanto tempo aguento estando em
cima de uma caixa de pregos afiados que insistem em apontar, rasgar e dilacerar
a sola de meus pés. Eu sangro por dentro e tento não deixar o sangue sujar o
exterior – não posso deixar pistas da morte lenta que planejo. Não quero
morrer. Não posso morrer.
Mas acordar ainda é um pesadelo maior ainda do que apenas
ter sonhos ruins.
Iasmyn Gordiano, 14/11/16
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