Tem tantas coisas que ainda não
foram ditas. Tantos desabafos que ficaram entalados na garganta, presos como se
uma mão enorme tentasse sufocar meu grito. Algumas coisas foram jogadas no ar e
causaram mais dor em mim do que eu achava ser capaz de suportar – elas me
feriram como se mil facas fossem enfiadas em meu corpo e minha pele servisse de
amolador. Ficaram cicatrizes imensas das coisas feitas, ditas, descobertas, mas
principalmente, das coisas que você não me disse. A sua falta de sinceridade
doeu mais do que descobrir toda a verdade daquela maneira tão cruel. Uma
história que parecia ser tirada de um daqueles filmes adolescentes americanos
se tornou uma tragédia dirigida pelo próprio Tarantino; houve sangue, muito sangue,
mas que não foi visível. Eu sangrei durante dias antes de conseguir estancar a
ferida imensa que você fez em meu peito, que abriu a minha alma e tirou de mim
qualquer resquício de confiança que eu ainda tinha. Foi-se junto meu chão,
minha paz, meu sono. Vi-me perdida em mim mesma, sem saber para onde correr já
que você havia se transformado em meu ponto de paz - você, aquele que hoje é o
meu algoz. Dói pensar em nossa história e perceber que nada daquilo foi real,
mas dói mais ainda lembrar que eu que me entreguei de uma maneira desmedida e
desenfreada a você. Queria voltar no tempo e retirar toda e qualquer palavra de
amor dita, todo e qualquer gesto de carinho feito, todo e qualquer toque seu em
minha pele, que ainda me inebria e me faz perder o rumo dos pensamentos quando
fecho os olhos e lembro. Mas também sinto que estou te deixando ir, soltando de
vez a sua mão e aprendendo a segurar mais forte na minha própria. A partir de
hoje eu sou a minha melhor companhia e talvez tenha sido isso que tenha faltado
– amor próprio. Amei você mais do que a mim mesma e esse foi o meu pior erro.
Amar você foi a maior besteira que já fiz, entre tantas coisas estúpidas que
cometi quando estava bêbada. Preciso me perdoar por isso. E preciso,
principalmente, resgatar a mulher que fui antes de te conhecer. Ela era mais
feliz.
Iasmyn Gordiano, 25/10/16